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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Nisargadatta Maharaj (BIDI)


Você sozinho é o construtor do mundo no qual
você vive, só você pode mudá-lo, ou desfazê-lo. 
(Nisargadatta Maharaj)


You are the maker of the world in
which you live, you alone can change it, or unmake it
Sri Nisargadatta Maharaj nasceu em Bombaim, Índia, em março de 1897. Seus pais, que lhe deram o nome de Maruti, tinham uma pequena chácara na vila de Kandalgaon, em Ratnagiri, distrito de Maharastra. Seu pai, Shivarampant, era um homem pobre que tinha sido um servo ou empregado em Bombaim antes de se tornar chacreiro.
Maruti trabalhou na chácara como auxiliar. Apesar de ter crescido com pouca ou nenhuma educação formal, ele foi exposto a idéias religiosas por Visnu Haribhau Gore, um homem piedoso amigo de seu pai.
O pai de Maruti morreu quando ele tinha 18 anos, deixando para trás a viúva e seis filhos. Maruti e seu irmão mais velho deixaram então a chácara para procurar trabalho em Bombaim. Depois de trabalhar brevemente como balconista, Maruti abriu uma loja de roupas para crianças, tabaco e cigarros enrolados em folhas, chamados bidis, que são populares na India. A loja teve um sucesso modesto e Maruti se casou em 1924. Um filho e três filhas se seguiram a essa união.

Bombaim, India

Sri Siddharameshwar Maharaj
Quando Maruti estava com 34 anos, um amigo seu, Yashwantro Baagkar, o apresentou ao seu guru, Sri Siddharameshwar Maharaj, o cabeça do ramo Inchegeri, da filosofia ou religião Navanath Sampradaya. O guru lhe deu um mantra e algumas instruções, e morreu pouco tempo depois. Sri Nisargadatta descreveu mais tarde essa experiência: “Meu guru me ordenou que eu atentasse para o sentimento de “Eu Sou” e para não prestar atenção em nada mais. Eu não segui nenhum curso especial de respiração, ou meditação, ou sequer estudei as escrituras. O que quer que acontecesse, eu desviava minha atenção disso e permanecia com o sentimento de “Eu sou”. Pode parecer muito simples, e até mesmo crú. Minha única razão para fazer isso foi que meu guru me havia dito para fazer. E mesmo assim funcionou.”
Em três anos, Maruti se realizou e assumiu o novo nome de Nisargadatta. Tornou-se um homem santo e partiu de pés descalços para o Himalaya. Mas, no caminho, encontrou com um outro discípulo de seu guru, que lhe mostrou a inutilidade de viver nas montanhas, longe da civilização. Assim, ele voltou a Bombaim, onde viu as quatro lojas que tinha estarem reduzidas apenas a uma só. Tendo o suficiente para viver, reassumiu seu pequeno negócio e construiu com suas próprias mãos, conforme a tradiçao indiana prevê, seu próprio local de meditações, no segundo pavimento da casa.

Nisargadatta fumou e vendeu bidis,
cigarros populares na India.
O sucesso de “I Am That” (Eu sou isso), primeiramente publicado em inglês, em 1973, o tornou internacionalmente famoso e trouxe muitos seguidores ocidentais ao pequeno apartamento onde dava seus ensinamentos.
Por ocasião da morte de seu corpo, devido a um câncer na garganta em 1981, Sri Nisargadatta tinha 84 anos. Durante sua vida, e estranhamente, para os padrões indianos, comeu carne e fumou. Uma vez questionado sobre seu hábito alimentar, respondeu: “Vida se alimenta de vida. Vim de uma família que comia carne”.
NOTAS SOBRE A TRADUÇÃO DE ALGUNS TERMOS
Na tentativa de tradução abaixo, ainda há uma série de questões a serem resolvidas, além da formatação do estilo propriamente dito. Há uma diferença sutil entre as palavras “awareness” e “consciousness” em inglês. No português, eu tenderia a traduzi-las respectivamente por “Sciência”, no sentido do estado atento de “estar-se-Sciente” – um estado de atenção sem foco - e “conSciência”, no sentido de “estar-se-Sciente-de-alguma-coisa”, um estado de atenção objetivado. Há também as diversas conotações de Ser e Self. O “eu” pessoal, a personalidade cotidiana, deveria ser escrita em minúsculo e o Ser-que–se-É, a conSciência-testemunha, com a inicial em maiúscula. Já o estado de SER, deveria ser escrito com todas as letras em maiúsculo. O “real” também deveria ser escrito em maiúsculas, REAL, para diferenciar-se do real cotidiano. Mas ainda não tive tempo de fazer todas essas checagens de consistência.
• eu (em minúsculas): o eu cotidiano, com nome e atribuições no dia a dia.
• EU (em maiúsculas): o nosso EU MESMO, o SER que somos, sem nome, o mesmo a todo instante, quer tenhamos 15 ou 90 anos, nossa presença dentro de nós mesmos, aquilo em nós que observa o que nos acontece, desde nossos pensamentos mais íntimos, nossos sonhos à noite, nossas visões “físicas” e “imaginárias” durante a vigília, o SELF, ou o “nosso Self” (no sentido indicativo e não possessivo).
• Real: aquilo que não muda, o EU, o Self, Realidade.
• real (em letras minúsculas): nossa realidade cotidiana, percebida pelos 6 sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar e equilíbrio), realidade.
• ser: nosso ser pessoal e limitado nas percepções dos 6 sentidos.
• Self - o nosso EU MESMO, o SER que somos, sem nome, o mesmo a todo instante, quer tenhamos 15 ou 90 anos.
• Sciência – estado atento de “estar-se-Sciente”, sem um objeto dessa atenção. É como o gato à espreita do rato na porta de sua toca; ainda não há um rato para que a atenção esteja focada nele, há apenas o estado de expectativa, de atenção, de testemunha atenta.
• Os prefixos latinos "com, con e co" indicam combinação e companhia. Dessa maneira, a palavra "con-sciência" deriva de "estar-com a sciência". Assim “sciência” é o “estado-de-estar-se-ciente-de” já que "sciente" é o estado básico da consciência-testemunha.
• ConSciência – “estar-se-Sciente-de-alguma-coisa”.
Há, ainda, uma importante observação a ser feita. Normalmente no Ocidente, a carga emocional da palavra “ilusão” é/pode ser negativa, como se “ilusão” fosse algo realmente falso e intrinsecamente mau ou do mal. No contexto de Sri Nisargadatta, o significado da palavra “ilusão” parece muito mais ligado ao conceito de “transitório” ou “impermanente”. Nesse mesmo contexto, a antípoda de “ilusório” é o “permanente”, o contínuo, o Absoluto ou o Real. Portanto, tudo o que muda é ilusório ou transitório, e o que não muda é Real ou permanente.
Já o conceito de “mente”, aparentemente implica em todas as operações e processos mentais, como percepção, memória, cognição, imaginação, abstração e, quando não explicitado, os processos de intuição e sentimento.
Todas as citações contidas nesse volume foram obtidas do sitehttp://www.mpeters.de/nisargadatta/index.cfm e foram retiradas originalmente do Livro “I Am That”, publicado pela Chetana Books, Bombaim, a partir de diálogos gravados e transcritos por Maurice Frydman. Este livro já está a disposição no Brasil (2006) através da Editora Advaita e com o título “Eu Sou Aquilo” o qual recomendamos fortemente a todos os interessados. Deve ser sempre levado em consideração que estas citações foram utilizadas dentro de um contexto, em um diálogo determinado, com uma pessoa específica e em uma determinada situação. Para uma melhor contextualização e compreensão do que o autor queria dizer é necessário consultar a obra original.
O que é Vedanta Advaita ?
A corrente filosófica na qual o pensamento de Nisargadatta Maharaj se insere é acadêmicamente conhecida como Vedanta Advaita. Os textos abaixo foram coletados da internet apenas para dar uma rápida idéia de como se pode observar esse pensamento se desenvolvendo.
Para essa corrente filosófica, o conhecimento fundamental é Atman é Brahman. Atman é o Self e Brahman significa a Alma universal ou Consciência Universal. Os Vedas falam da união mística como sendo a compreensão de que Atman é Brahman.
Advaita é uma palavra em sânscrito cujo significado literal é “não-dois”. A interpretação moderna do Advaita é algumas vezes apresentada como “Não-dualidade” ou mesmo como o final dos Vedas ou “Não-dualidade além do conhecimento”. Outro nome ainda para o estudo do Advaita é Jnani Yoga (Yoga do Conhecimento). No século 20, os mestres modernos do Advaita Ramana Maharshi e Nisargadatta Maharaj quebraram o caminho tradicional, de trasmitir o ensinamento por via escrita, e falaram diretamente de sua experiência.
Entre as diversas reinterpretações desse termo, e apenas como referência, abaixo está a da Enciclopédia Britânica:
Gaudapada, pensador do século VII, autor do tratado Mandukya-karika, defende que não há dualidade; a mente, acordada ou sonhando, move-se através de Maya (ilusão ou transitoriedade); apenas a não-dualidade é a verdade final. Esta verdade é obscurecida pela ignorância da ilusão. Não há o tornar-se, seja de uma coisa por si mesma, ou de uma coisa vinda de outra coisa. Na verdade não há Self individual ou alma, apenas o Atman (Consciência Universal).
O filósofo indiano medieval, Shankara (700? – 750?) desenvolveu ainda mais os fundamentos de Gaudapa, principalmente nos seus comentários aos sutras do Vedanta, os Sari-raka-mimamsa-bhasya (Comentários sobre os Estudos do Self). Shankara, em sua filosofia, não parte do mundo empírico e o submete a uma análise lógica, mas, ao invés disso, parte diretamente do Absoluto (Brahman). Se interpretado corretamente, ele questiona, os Upanishads ensinam a natureza de Brahman. Ao construir seu argumento, ele desenvolve uma epistemologia completa para contabilizar o equívoco humano de tomar o mundo fenomênico como sendo real.
O fundamental para Shankara, é o postulado de que Brahman é Real e o mundo é irreal. Qualquer mudança, dualidade ou pluralidade é uma ilusão (no sentido de que é ilusório, é momentâneo, transitório, não-permanente. Já o que é Real, não muda, é permanente e constante). O Self não é outra coisa senão Brahman. O insight dessa identidade resulta na libertação espiritual. Brahman está fora do tempo, do espaço e da causalidade, as quais são simplesmente formas de experiência empírica. Não é possível nenhuma distinção em ou de Brahman.
Origens do Advaita (não-dualidade) nos textos Védicos :
O Self que é livre do pecado, livre da velhice, da morte e do pesar, da fome e da sede, que não deseja nada além do que deseja, e que não imagina nada, além do que imagina, isso é o que devemos procurar, isso é o que devemos tentar compreender. Aquele que descobriu esse Self e o compreende, obtém todos os mundos e todos os desejos. (Chandogya Upanishad 8.7.1)
Tudo isso é Brahman. Deixe um homem meditar nisso (no mundo visível) como começando, terminando e respirando nele (Brahman)... ( Chandogya Upanishad 3.14 1, 3)
O Self separado dissolve-se no mar da pura conSciência, infinita e immortal. A separatividade provém do identificar o Self com o corpo o qual é feito de elementos; quando a identificação física se dissolve, não pode haver mais um Self separado. É isso que eu quero dizer a vocês. (Brihadaranyaka Upanishad. Chapter 2, 4:12)

Assim como os rios que fluem para o leste e para o oeste se fundem no oceano e se tornam um com ele, esquecendo que eles eram rios separados, assim também todas as criaturas perdem sua separatividade quando se fundem finalmente no puro Ser. (Chandogya Upanishad. 10:1-2)
O que o sábios procuravam eles finalmente encontraram. Nenhuma pergunta a mais eles tem a fazer para a vida. Com a vontade própria extinta eles estão em paz. Vendo o Senhor do Amor em tudo a sua volta, servindo ao Senhor do Amor em tudo a sua volta eles estão unidos com ele para sempre. (Mundaka Upanishad. 3:2:5)
…Mas aqueles que me adoram com Amor vivem em mim, e eu passo a viver neles. Aquele que me conhece como seu próprio Self divino se desvencilha da crença de que ele é o [seu] corpo e não renasce como uma criatura separada. Este está unido comigo. Libertos do apego egoísta, medo e raiva, preenchidos de mim, rendidos a mim, purificados no fogo do meu ser, muitos alcançaram o estado de unidade comigo. (Bhagavad Gita 4:9-10)
E este Self, que é pura conSciência, é Brahman. Ele é Deus, todos os deuses: os cinco elementos – terra, ar, água, fogo, éter; todos os seres, grandes ou pequenos, nascidos de ovos, nascidos de úteros , nascidos do calor, nascidos do solo, cavalos, gado, homens, elefantes, pássaros; tudo que respira, os seres que andam e que não andam . A realidade por detrás de tudo isso é Brahman que é pura conSciência. Todos estes enquanto estão vivos e depois que deixaram de viver, existem nele. (Aitareya Upanishad)
Quando identificado com o ego, o Self parece outra coisa diferente do que ele é. Pode parecer mais fino que um fio de cabelo. Mas saiba que o Self é infinito. (Shvetashvatara Upanishad. 5:8-9)
O Self supremo nem nasce nem morre. Nao pode ser queimado, movido, perfurado, cortado ou seco. Além de todos os atributos, o Self supremo é a eterna testemunha, sempre puro, indivisível, único (não-composto), muito além dos sentidos e do ego... Ele é omnipresente, além de todos os pensamentos, sem ação no mundo externo, sem ação no mundo interno. Separado do externo e do interno, esse Self supremo purifica o impuro. (Atma Upanishad. 3)
Apesar de todas as galaxies emergirem dEle, Ele não tem forma e é incondicionado. (Tejabindu Upanishad. 6)
Medite e compreenda que esse mundo é preenchido com a presença de Deus. (Shvetashvatara Upanishad. 1:12)
Você é o Brahman supremo, infinito, e mesmo assim escondido no coração de todas as criaturas. Você permeia tudo. (Shvetashvatara Upanishad. 3:7)
“Aquilo em quem residem todos os seres e que reside em todos os seres, aquele que é o doador das graças para todos, a Alma Suprema do universo, o ser ilimitado – eu sou Aquilo." Amritbindu Upanishad
“Aquilo que permeia tudo, que nada transcende, e o qual, como o espaço universal à nossa volta, preenche completamente tudo, por dentro e por fora, esse Brahman Supremo não-dual – isso és Tu.” Shankara

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